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Inusitada Caridade
Ela era uma mulher excêntrica. Ao menos, era assim que a consideravam os alunos daquela Cidade Universitária da Califórnia.
Todos os dias, podia ser vista a empurrar seu pequeno carro pelas ruas, vendendo maçãs.
Como os estudantes raramente tinham dinheiro, ela emprestava as maçãs. Dizia que não vendia fiado, emprestava. Quando os alunos pudessem, lhe pagariam.
Conferia, de certo modo, dignidade a quem se servia das suas frutas.
Certo dia, tia Fefa, como era chamada, observou que um dos rapazes estava sentado no peitoril da janela, muito triste. Tão triste que nem aceitou a maçã que lhe foi oferecida.
Não tinha fome, confessou. E acabou por dizer que não tinha dinheiro para saldar as últimas mensalidades. Consequentemente, não poderia fazer as provas finais, concluindo o curso de medicina.
Sorridente, ela disse que o poderia ajudar e pediu para encontrá-la, no dia seguinte, no banco.
Ele ficou desconfiado. Como aquela mulher, vendedora de maçãs, poderia ter dinheiro para lhe emprestar?
Por questão de educação, foi ao encontro. Viu como todos os caixas a cumprimentavam e quando ela disse a um deles quanto queria sacar, foi encaminhada ao gerente.
Igualmente muito bem recebida, ela preencheu um cheque avulso, de dois mil dólares, e o entregou ao rapaz, que continuou a temer pelo que poderia acontecer.
Com certeza, todos estavam se divertindo às custas daquela mulher simplória. Nem quis retirar o valor, colocou o cheque no bolso e se foi, disposto a rasgá-lo, longe dali.
No entanto, no dia seguinte, quando o secretário da Universidade lhe disse que lamentava que ele não tivesse ninguém que lhe pudesse emprestar o valor para os pagamentos e que não poderia fazer os exames, o sangue subiu às faces do rapaz.
Pegou o cheque e entregou. Ah, disse o secretário, é cheque da Josefa. Pode fazer os exames.
Depois do gesto impensado, durante toda a noite e o dia seguinte, o rapaz temeu ser chamado pela polícia por passar cheque sem fundos.
Mas tudo deu certo. Ele concluiu os exames, formou-se.
Muito mais tarde, tentando agradecer à benfeitora, ficou sabendo que ela era uma mulher extremamente rica. Herdeira de milhões de dólares.
Usufruíra o que pudera, mas se desencantara ao perceber que as pessoas se aproximavam dela para desfrutar do que ela tinha a oferecer: jantares luxuosos, viagens, presentes de grande valor.
Então, aplicara tudo e se transformara numa pessoa simples, vendedora de maçãs.
Uma maneira de estar próxima dos estudantes porque, imaginava, a maioria deles tinha muitas dificuldades para se manter na Universidade.
Ela lhes ouvia as histórias e os auxiliava com os valores de que precisavam.
Somente pedia que não lhe fossem devolvidos os valores. Deveriam ser guardados para auxílio a outros.
* * *
Eis o caráter da verdadeira caridade. Aquela que auxilia, conferindo dignidade a quem recebe o benefício.
Que se importa em libertar da ignorância, promover a criatura humana, educá-la.
Em síntese, aplicar o capital do amor, socorrer com a cédula generosa, a ajuda liberativa do problema.
Redação do Momento Espírita, com base
no cap. 4, do livro Da verdade nada se oculta,
de Divaldo Franco e Délcio Carvalho, ed. LEAL.
Em 28.10.2024
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